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Episódio 5:

Por que tem gente que acha isso bonito?

Oi. Esta página tem spoilers do quinto episódio de Tramas Coloniais. Se você ainda não ouviu, é melhor dar play antes e voltar aqui depois para se aprofundar com o conteúdo extra e os bastidores. Se já ouviu, fique à vontade.

O episódio 5 investiga de que maneira a estética (ou seja, as nossas noções do que é bom, bonito, funcional, melódico e harmônico) foi uma peça central do colonialismo na África. Falamos de arquitetura, de música, de literatura, e explicamos como tudo isso fez parte dos projetos de dominação colonial – e de resistência dos africanos.

 

Se você ouviu o episódio, vai lembrar que logo na abertura a Raquel Sirotti visita um píer no balneário de Swakopmund, na Namíbia. Aqui estão as bandeiras da Namíbia, da África do Sul e da Alemanha:

Na pequena cidade costeira, visitamos uma famosa loja de antiguidades, a Peter’s Antiques. Ali qualquer turista pode comprar souvenirs celebrando o colonialismo alemão – incluindo fotos de generais colonizadores e do próprio Adolf Hitler. 

Conversamos com Laidlaw Peringanda, fundador do Museu do Genocídio de Swakopmund. Eles nos conta como a celebração dos feitos coloniais alemães está espalhada por diversos pontos da cidade.

Na entrada do restaurante Altstadt, dá para ver uma enorme estátua de um conquistador em cima de um cavalo: 

Aqui mais uma imagem que mostra como a arquitetura colonial alemã está impregnada nesta cidade da Namíbia. Foi esta imagem que inspirou a ilustração da capa do episódio, feita pela artista Mayara Ferrão. 

O episódio segue com uma reflexão sobre a supressão dos idiomas africanos nos processos de colonização, e como isso afeta a literatura do continente até hoje. Se quiser ver a versão completa da entrevista que citamos do escritor queniano Ngūgī Wa Thiong’o à BBC, aqui está o vídeo:

Também conversamos com o linguista ganês Adams Bodomo, professor na Universidade de Viena, na Áustria:

Em vez de literatura anglófona, lusófona ou francófona escrita por africanos, o professor Bodomo defende a necessidade de uma literatura afrífona, ou seja, da valorização da literatura pensada no e para o contexto africano, em idiomas africanos.

 

Um dos trechos mais importantes do episódio trata de uma história em quadrinhos muito famosa: “As aventuras de Tintim”. O livro “Tintim no Congo” é um exemplo de como a ideologia colonial estava entranhada em obras da cultura popular. Você já tinha reparado o quanto Tintim está associado ao colonialismo? 

Mas a estética também foi e continua sendo um espaço de criação, agência, comunicação e manifestação política apropriado pelos africanos. Se Tintim abraçava a estética colonialista nas suas aventuras, existem algumas contraposições bem interessantes. Uma delas é o desenho franco-belga “Kiriku e a feiticeira”:

Algumas produções ficaram muito famosas e lotaram salas de cinema no mundo inteiro, como Pantera Negra e Wakanda Forever. No Brasil, vários educadores e coletivos negros promoveram ações pra levar crianças e adolescentes de periferia pra assistir, como mostramos no episódio. 

 

A comunicação por meio dos tecidos e suas estampas também faz parte da estética como contraponto ao colonialismo. Em Moçambique, a capulana usada pelas mulheres é um instrumento de identidade e comunicação. As cores dos tecidos mudam de uma região pra outra, assim como os temas das estampas, que narram histórias tradicionais ou celebram datas importantes.

Por fim, em um episódio sobre África e estética, não poderia faltar o pai do Afrobeat: 

Contamos a história de Fela Kuti, que subverteu instrumentos e ideias ocidentais para mudar a história da música para sempre. Aqui o show que ele fez em Berlim, em 1978, citado no episódio:

O multi-instrumentista nigeriano morreu como um herói anticolonialista e deixou um legado estético, cultural e político. Valores fundamentais para combater um outro legado, aquele que a gente viu no início do episódio, que ainda mantém o colonialismo vivo em várias partes do continente africano.

 

Se quiser se aprofundar ainda mais no tema, seguem algumas referências bibliográficas:

 

– “Fela Kuti’s Wahala Music: Political Resistance Through Song”, de Viviane Saleh-Hanna, 2008.

 

– “Images and empires: visuality in colonial and postcolonial Africa”, de Paul Stuart Landau e Deborah Denise Kaspin (eds.), 2002.

 

– “Decolonizing the Mind: The Politics of Language in African Literature”, de Ngũgĩ wa Thiong’o, 2008.

 

– “Further considerations of Afrofuturism”, de Kodwo Eshun, 2003.

 

– “As capulanas em Moçambique-Descodificando mensagens, procurando sentidos nos tecidos”, de Maria Paula Meneses, 2003.

 

– “History, Monuments, Ruins, and Colonial Nostalgia in Namibia: German Tourist Swakopmund and the Marinedenkmal”, de Richard Voeltz, 2023.

 

– “The Representation of German Colonial History in the Cultural Landscape in Namibia”, de Manuel Hoffman, 2019.

 

– “Dar a ver o indizível: as capulanas no norte de Moçambique”, de Hélia da Silva Assunção, 2023.

 

– “Orientalism: Western conceptions of the Orient”, de Edward Said, 2016.

 

– “Um ‘membrudo negralhão’: calças e conflitos em Lourenço Marques (1900-1920)”, de Matheus Serva Pereira, 2016.

 

– “Afriphone literature as a prototypical form of African literature: Insights from prototype theory”, de Adams Bodomo, 2016.

 

– “Afrofuturismo: a construção de uma estética [artística e política] pós-abissal”, de Raquel Lima, 2019.

 

– “Afrotopia”, de Felwine Sarr, 2020.