Oi. Se você está em dia com o Tramas Coloniais e já ouviu o episódio 4, pode ficar à vontade para se aprofundar com o conteúdo extra. Caso ainda não tenha ouvido, cuidado com os spoilers.
Neste episódio, a gente te conta histórias sobre raça e sobre a consolidação do racismo como resultado da colonização. Começamos com a Raquel Sirotti em um mercado popular na Namíbia, onde cosméticos para clarear a pele são vendidos clandestinamente. Os potinhos ficam assim, empilhados um em cima do outro:
A obsessão por um tom de pele mais claro chega a movimentar mais de 10 bilhões de dólares por ano no mercado global de cosméticos. Aqui está o comercial de um produto clareador veiculado nos últimos anos em canais públicos e privados na TV de Angola:
Se hoje em dia o tom da pele ainda influencia nas dinâmicas sociais, no período colonial esse era um fator que determinava quase tudo na vida de um ser humano. No episódio, a Gabriela Montoni fala sobre o quadro “A Redenção de Cam”, que está no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. A pintura mostra como a ideia de embranquecimento está no DNA das práticas coloniais. Observe os detalhes:
A professora Maria da Conceição Neto, do Departamento de História da Universidade Agostinho Neto em Luanda, retorna ao podcast e nos conta sobre os privilégios que ela própria vivenciou como uma mulher branca na sociedade colonial angolana.
A associação da cor da pele com o preconceito social se consolidou no século 19, com as justificativas biológicas da eugenia. Para mostrar como isso impactou a vida dos africanos, nós contamos a história da Sarah Bartmann, uma mulher sul-africana que foi exibida para plateias na Europa como uma aberração selvagem. Ela ficou conhecida como “Vênus Negra”, aqui retratada em uma ilustração de William Heath de 1810:
A ideologia do racismo também afetava as formas de governo e administração dos estados africanos, inclusive dos que já haviam conquistado a independência, como a África do Sul. Neste link você pode assistir à íntegra do discurso de Nelson Mandela no parlamento Europeu em 1990. Logo no início ele lembra que o racismo é um velho conhecido da Europa.
Mandela lutou contra o regime segregacionista do Apartheid, que o manteve na prisão por mais de 20 anos. O episódio cita o filme “Mandela: longo caminho para a liberdade”, que retrata o massacre de Sharpeville, em 1960:
Aqui a reportagem da BBC com sobreviventes do massacre em 2013:
E aqui a entrevista histórica de Mandela ao canal inglês ITN em 1961.
Se a raça foi e continua sendo um fator de opressão dentro e fora da África, ela também foi e continua sendo um motor de resistência. O tema esteve no centro de movimentos históricos importantes como a Negritude e o Pan-Africanismo.
Em junho de 1962, o presidente de Gana, Kwame Nkrumah, discursou na capital Acra durante a Conferência dos Defensores da Liberdade. Ele disse que só a união da África poderia garantir proteção e resolver os problemas do continente:
Para entender melhor o Pan-Africanismo e como ele possibilitou a criação de organizações importantes no continente, a Raquel Sirotti conversou com o professor Babatunde Fagbayibo:
Ele finaliza o episódio nos contando sobre a criação da União Africana, a maior organização internacional de integração regional do continente.
Se você quiser se aprofundar ainda mais nos temas do episódio 4, seguem algumas referências bibliográficas:
– “Na casa de meu pai. A África na filosofia da cultura”, de Kwame Anthony Appiah, 1997.
– “Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano”, de Grada Kilomba, 2019.
– “Cor da pele, distinções e cargos: Portugal e espaços atlânticos portugueses (séculos XVI a XVIII)”, de João de Figueirôa-Rêgo e Fernanda Olival, 2011.
– “Raça, casta e qualidade: designações étnicas, jurídicas e sociais na Vila Rica setecentista”, de Daniel Precioso, 2010.
– “Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia”, de Kabengele Munanga, 2004.
– “The inequality of human races”, de Arthur de Gobineau, 1915.
– “Apartheid, 1948-1994”, de Saul Dubow, 2014.
– “History of Apartheid Podcast Series”, de 2024.
– “Why South Africa is still so segregated?”, Vox series, 2024.
– “A crítica da razão negra”, de Achille Mbembe, 2017.
– “Looking back, thinking forward: Understanding the feasibility of normative supranationalism in the African Union”, de Babatunde Fagbayibo, 2013.