Oi. Se você ainda não ouviu os dois primeiros episódios de Tramas Coloniais, cuidado com os spoilers. Se você já ouviu, fica à vontade e vem se aprofundar nos assuntos do episódio 2, conhecer os entrevistados e alguns bastidores de produção.
O episódio te leva para ouvir histórias de países como Moçambique, Gana, Congo, Angola e Nigéria. E logo no início nós te convidamos a entrar na Universidade Pedagógica de Maputo, para mergulhar numa conversa sobre o nosso tema principal: a produção de conhecimento.
A seguir, dois registros do evento sobre Conhecimentos Endógenos: a credencial da Raquel Sirotti e um vídeo das mulheres Nyangas cantando e dançando no intervalo – é o som que você ouve na abertura do episódio.
Uma das moderadoras do evento foi a professora moçambicana Matilde Muocha, que une diferentes conhecimentos: é acadêmica da área de História, e também é praticante de medicina tradicional.
Na Nigéria, a Fernanda Thomaz conversou com a Felicia Adetoun Ogunsheye, a primeira professora universitária do país. A gente te leva para dentro da casa dela:
O episódio também te transporta para Colwyn Bay, um balneário no norte do País de Gales, onde o reverendo William Hughes criou o Instituto de Treinamento do Congo. Aqui a famosa foto do reverendo com os meninos Kinkasa e Nkanza, que ele levou para a Europa:
Mais uma imagem do reverendo com um grupo de estudantes:
Os trechos em áudio sobre o reverendo estão no documentário “The Remarkable Reverend Hughes”:
O episódio mostra ainda alguns áudios retirados de vídeos que talvez você queira assistir na íntegra. Primeiro o filme sobre o Congo Belga, produzido na década de 1940 pelo jornalista e documentarista americano Paul Hoefler:
O discurso de Kwame Nkrumah na proclamação de independência de Gana:
E o discurso de Agostinho Neto na independência de Angola:
A grande questão do episódio é mostrar como o conhecimento produzido por sociedades que fogem dos padrões europeus foi ignorado, desvalorizado ou até negado, tanto no período colonial quanto depois. A colonização, a gente sabe, se apoiava na ideia de contraste, na noção de que um povo é “superior” ao outro. Muitas vezes essa ideia tinha o carimbo da ciência, especialmente das ciências sociais. Um exemplo é a portaria do governo português que criou a chamada Missão Antropológica de Moçambique:
Mas a ciência ocidental é só um entre muitos sistemas de conhecimento. Ela não é superior, não é melhor, muito menos exclusiva. Os saberes podem conviver. E a prova disso é a conversa que tivemos com o moçambicano Benjamin Macuacua, que tem formação em antropologia, mas também é um Nyanga, praticante de medicina tradicional:
Também conversamos com o professor moçambicano Elísio Macamo, da Universidade de Basel, que nos explicou como o colonialismo – com a chancela da ciência – criou uma visão racializada do mundo:
Como é que a gente rompe com esse ciclo de apagamento de conhecimento? Será que dá para romper de verdade? Quais são os limites? São perguntas que ficam ecoando durante e depois do episódio. Esperamos que você goste da escuta.
Por fim, se quiser se aprofundar ainda mais no tema, seguem algumas referências bibliográficas:
– “Educating Congolese abroad: an historical note on African elites”, de Barbara Yates, 1981.
– “Scientific colonialism”, de Johan Galtung, 1967.
– “Conhecer para dominar: o desenvolvimento do conhecimento antropológico na política colonial portuguesa em Moçambique, 1926-1959”, de Rui Mateus Pereira, 2005.
– “Dark Africa and the way out or a scheme for civilizing and evangelizing the Dark Continent”, de William Hughes, 1969.
– “Hereditary Genius. An inquiry into its laws and consequences”, de Francis Galton, 1892.
– “A moral da história: adiar conversa como intervenção epistemológica”, de Elísio Macamo, 2012.
– “Visões do Império”, de Miguel Bandeira Jerónimo e Joana Pontes, 2021.
– “Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina”, de Anibal Quijano, 2005.
– “Colonizing bodies and minds: gender and colonialism”, de Oyèronké Oyewùmi, 1997.